terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Um Jeca e herói. Um chaplin brasileiro




Memórias nos acompanham escondidas em nosso cérebro. Neurocientistas até já descobriam como funciona o nosso banco de dados de armazenamento de sons, imagens, lembranças e pensamentos.
As conexões formadas ativamente em nosso cérebro estão associadas aos registros que fazemos em toda uma vida.
Como um forte cimento que solidifica algumas dessas memórias mais importantes está a natureza lúdica e prazerosa dos eventos que acabamos por registrar. Nós guardamos ou retemos em nosso cérebro aquilo que nos é prazeroso e temos uma tendência a esquecer ou perder aquelas memórias que não agradáveis.
Por isso, quando tentamos fazer um esforço e acionar aqueles caminhos e conexões cerebrais que nos são mais importantes, nos deparamos atônitos com detalhes que estavam guardados lá no fundo do nosso pensamento.
Uma dessas lembranças prazerosas eram os filmes do Mazzaropi que assistia no cinema Vitória. Era só entrar em férias e lá estava eu, assistindo as sessões de matiné e noturna. As matinês eram obrigatórias e a noite, ás vezes, contando com a cumplicidade do controlador da roleta, eu assistia o filme de novo.
Tinha uma sensação de liberdade de ir rápido, andando sozinho e voltando do cinema e sendo uma criança, pois estava de férias e a cidade do interior era bastante tranquila.
Os filmes do Mazzaropi eram um caso a parte, pois eu ria, ria e ria das situações que aquele Jeca se submetia. O tipo Jeca e malandro era um personagem bom e rude que se transformava em super herói a cada situação e enrascada que se submetia e cada situação difícil ele conseguia se livrar fazendo o climax do filme.
Nessas lembranças sem rever alguns desses filmes ficaram gravadas na minha cabeça e é lógico se eu vesse o filme de novo aquelas imagens poderiam disparar outras lembranças daquela êpoca. Isso até não é muito difícil de fazer, mas não seriam essas lembranças mais latentes que consigo me lembrar hoje.

Eu lembro de alguns desses filmes especialmente aqueles em que o mesmo lidando com o sobrenatural e o místico tem encontros com anjos, o capeta (que cai na maladragem do Jeca), dentre outros personagens.


Jeca Contra o Capeta
Fonte principal: ACPJ/I - Araken Campos Pereira Júnior. Cinema Brasileiro (1908-1978) - Longa-Metragem. V. 1 Santos: Casa do Cinema, 1979.



Jecão... Um Fofoqueiro no CéuFonte: Guia de Filmes - INC - Ministério da Educação e Cultura
Para conhecer um pouco mais sobre esses filmes e o Mazzaropi qualquer pessoa pode visitar o museu do Mazzaropi. http://www.museumazzaropi.com.br

Sempre gostei dos filmes do Carlitos ou Charlin Chaplin, mas se o nosso Mazzaropi não puder ser comparado com o mesmo cometeríamos uma injustiça. Porque como Carlitos, o nosso Mazzaropi era diretor, ator, roteirista e o seu personagem tinha todos os elementos humanos tão retratados na obra de Chaplin. Humor, Morte, ciúmes, inveja, medo, arrogância, amor, ternura e muito mais...

A sala de cinema do Cine Vitória anunciava mais uma produção do Mazzaropi que era aguardado por mim na certeza de que seriam algumas horas de divertimento ao ver e ouvir um bom filme.

Interessante que diferente da sala de projeção de hoje em dia, tinhamos uma cortina que abria e fechava no início e final do filme como uma grande apresentação de cinema mais com recepção daquela pelicula como uma peça teatral...

Fica uma saudade e a vontade de rever esses filmes e ver como o cinema e seus diretores, atores, os seus filmes ficam na nossa memória e fazem as nossas lembranças serem mais prazerosas.
Acho até que hoje o Teatro Vitória poderia fazer uma exposição permanente sobre a vida e obra do Mazzaropi.
Fica aqui o meu pedido para que mais pessoas possam preservar a memória e a história desse Jeca Tatu tão caipira, mas tão nóis mesmo.