Matéria publicada no Jornal Afato – novembro de 2004
Página 4.
Lendo, no último AFATO, a notícia da inauguração do Teatro Vitória, senti, vontade de saborear pedacinhos do passado... Quanta lembrança forte, quantos fatos na memória arquivados, bastando-me escolher um para ser vivido de novo e bem devagar, como que “pipinando” (como se diz em Teófilo Otoni) um bom-bocado feito por Dona Lourdes Lorentz ou um canudinho com doce de leite, feito por Dona Violeta Castro Pires. Indecisa, entre tantos fatos saborosos, confeitados de saudade, permito a minha imaginação ouvir, pelo alto-falante, a voz do locutor anunciando o nome do filme, antes que se inicie a música “No mar negro” que prenuncia a sessão da noite, no Cine Viória. Revejo o entusiasmo dos jovens interrompendo o footing, formando fila para entregar, aos porteiros, Joaquim e Jorge, o ingresso já adquirido na mão de Santa de Inhá Maria. Entrar no “Cine Teatro Vitória” provocava, sempre, uma altivez, uma certa pose, além da alegria, tanto fosse para descobrir um bom lugar na platéia ou para subir a escadinha lateral de acesso aos bastidores e ao palco.
Todo domingo era esperado, com entusiasmo que variava em sua intensidade de acordo com a programação estabelecida por Sady Ribeiro. Se o filme fosse impróprio para menores, contentavam-se os adolescentes com a matinê que, além do filme de aventuras ou de suaves romances com Doroty Lamour, com June Álisson, exibia um capítulo do seriado de Zorro ou qualquer outro de caubói.
Apresentavam-se, no palco do Vitória, peças teatrais de artistas da capital que empolgavam a cidade, porém eram raras e caras, mas os shows, recitais e experiências dos grupos de teatro local eram frequentes e de custo acessível para o povo. Os artistas eram amadores dedicados que faziam de cada ensaio um encontro festivo como é tão próprio da nossa gente.
Professores e alunos do Colégio São Francisco e de outras escolas se esmeravam na escolha de roteiros e números musicais, assim como também o faziam as coordenadoras dos movimentos sociais da paróquia da Igreja Matriz.
Como se estivesse vendo um filme esfumaçado, a memória projeta, na tela das evocações, a vida de Santa Terezinha apresentada em quadros vivos, no palco do Vitória... A narradora, não sei se é Rísia Penchel ou Nícia Campos... Eu era menina, na época, e os detalhes precisos me chegam das danças folclóricas e bailados como Edimê em destaque. A nitidez também aparece focalizando Marta Caldeira dançando “Um barril de chopp” e Zine à frente de um grupo de bailarinas em esboço de dança clássica. Muda-se o foco para a peça infantil “Chapeuzinho Vermelho” e, sem atentar para datas dos eventos, entreabrem-se as cortinas de veludo e lá está a jovem Glícia Porto cantando, no centro do palco...-”Tão longe, de mim distante...” - Distante do tempo, em salto rápido da imaginação, percebo a positiva invasão das ondas sonoras pela ZYX 7 Rádio Teófilo Otoni que se espalha pelos quatro cantos da cidade, conquistando o povo... Mas a rádio Teófilo Otoni quer mais. A diretoria resolveu fazer programas de auditório e, a escolha do espaço não poderia ser melhor: Cine Teatro Vitória. Nasce, então, a “Matinal X 7”, para crianças e adolescentes. Com platéia assídua e bons animadores no palco, acontecem surpresas e revelações.
Cria-se um programa de perguntas e respostas que, se não me engano, tinha a colaboração de Tii a circular com um microfone de fio enorme pela platéia! Uma farra para os estudantes que desejavam demonstrar conhecimento.
Passava-se, entre simplicidades tão nossas e influências da capital, o tempo e o jeito de nosso povo sempre afeito as novidades.
O palco do Cine Vitória, que sentiu, em cada final de ano, a ressonância dos discursos dos paraninfos e oradores, nas formaturas de professoras, contabilistas e ginasianos, que captou a alegria dos formandos e a emoção dos familiares que lotavam a platéia, se transformava em modismo no período de férias.
Era a vez dos desfiles de modas com as modelos escolhidas entre as jovens mais bonitas e desenvoltas da sociedade. Desfilavam Maria Cristina Abrantes, as filhas altivas de dona Edith, as irmãs Neiva, e outras das quais revejo o porte, sem distinguir os nomes, neste instante e lugar em que me encontro, ditando lembranças para o laptop, no condomínio Pasárgada, em Nova Lima.
Não tive o privilégio de conhecer ainda as novas instalações do Teatro Vitória reativando nas comemorações dos 60 anos de sua inauguração, com um salão de espetáculos de 812 poltronas, palco, camarins bem equipado, com espaço necessário para montagem de qualquer tipo de cenário, e total segurança na prevenção de incêndios.
Joaquim Ribeiro conserva vivo o sonho de seu pai neste espaço cultural que centraliza a expectativa do povo confiante na qualidade da sua programação.Espaços tão próprios para uma cidade que não nega, das suas raízes, a influência diversificada em núcleos da Europa na composição do sonho maior do Ministro do povo... Não apenas fundar uma cidade, mas criar condições para uma gente especial preparada para viver e conviver- Somos.
G.S Murta.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
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